1 de junho de 2010
Dica de filme: Sex and the City 2

Quatro mulheres bem sucedidas, ricas, influentes e que fazem o que querem. Nenhum exemplar máximo dos padrões femininos de beleza, e algumas até com um pé na “melhor idade”. Charmosas, elegantes e com um guarda-roupa que faria inveja a qualquer mortal. Donas de casa, mães responsáveis e esposas dedicadas, com uma pitada de não-convencionalismo e glamour na hora de preparar o bacon com ovos do café da manhã. Carrie, Charlotte, Miranda e Samantha estão de volta, com um “Sex and the City” mais divertido e exagerado que o original.
Se o sucesso do seriado, que durou seis temporadas (1998-2004), e continua sendo transmitido pela TV paga no Brasil, e do primeiro filme, com US$ 100 milhões arrecadados nos 10 primeiros dias de exibição, é explicado pela projeção que a classe feminina faria nas quatro amigas, não se sabe. O importante é que elas continuam ditando tendências e colocando a mulher no patamar de igualdade de gêneros que sempre mereceu. Desde que ela esteja usando um vestido Chanel e sapatos Manolo Blahnik, claro.
Neste segundo filme, as amigas viajam para a pretensiosa Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, após uma série de pequenos problemas familiares. Filhos descontrolados, maridos preguiçosos e chefes de emprego autoritários são argumentos suficientes para que Samantha, a única sem problemas aparentes, convença o grupo a visitar o “novo oriente médio”. Do outro lado do mundo, entre quilômetros de desertos, sobra tempo e espaço para roupas extravagantes, afirmação feminista, aventuras sexuais e contabilidades afetivas.
O veterano Michael Patrick King, diretor, roteirista e produtor em “Sex and the City 2”, continua cumprindo bem a sua tarefa de colocar as quatro amigas em situações constrangedoras e propícias para demonstrações supérfluas de riqueza e pouca modéstia. Não que isso seja um traço negativo. Pelo contrário, é do exagero e esbanjamento que o filme retira sua principal vertente humorística. E nisso ele é certeiro, faz chorar de rir até os assumidamente anti-consumistas.
A direção é tão plástica quanto no primeiro filme e no seriado, e tudo aqui é convencional, um pouco artificial demais. A fotografia também aposta no “testado e aprovado” e o visual clean das sequências faz toda a história parecer saída de um comercial sofisticado de sabonete. Muito brilho, iluminação estourada e cores vibrantes dão o tom do filme. Felizmente, qualquer outra opção técnica fugiria demais do que estamos habituados a esperar e a escolha foi adequada para acompanhar o ritmo da narrativa e a personalidade igualmente plástica das personagens.
Entre tantos excessos técnicos não sobra espaço para uma observação minuciosa do trabalho das quatro protagonistas, e qualquer falha de interpretação é facilmente mascarada pelo acessório extravagante que elas insistem em chamar de chapéu. Mesmo assim, Sarah Jessica Parker, Kristin Davis, Cynthia Nixon e Kim Cattrall oferecem ao público a mesma atuação que imortalizou cada personagem na memória deste início de século. E se a fórmula recebeu aprovação unânime, não há muito que se contestar.
Se bem lembrasse a equação exata de sucesso do seriado, Patrick King teria deixado de lado a irritante pretensão feminista de algumas sequências. As protagonistas exalam a libertação feminina em cada um de seus gestos, e inserir diálogos de reafirmação dessa verdade foi uma decisão constrangedora. A veia humanamente responsável não combina com as personagens, e qualquer tentativa de colocar conselhos e teorias de igualdade de gêneros na boca das atrizes teve o resultado oposto. As considerações sobre a identidade da mulher não se encaixam quando o mote de um filme é, de certa forma, a celebração do fútil.
Como um filme de comédia, “Sex and the City 2” merece ser visto. É impossível não chorar de rir de algumas cenas originalmente bem construídas. Quem espera pelo humor um tanto “erudito” de cineastas como Woody Allen, a viagem das quatro amigas pode parecer irritante. Mas para aqueles que gostam de rir do que provavelmente fariam se esbanjassem dinheiro em Nova York, não existe outro filme mais adequado.
Recomendadíssimo.
0 comentários:
Postar um comentário
Dê o seu pitaco!